A mentira, o mentir e o mentiroso : uma análise comportamental

Logo na primeira página o autor coloca a seguinte frase: “Os dados (sobre a mentira), embora existentes, são escassos e as pesquisas nos lançam numa repetição de conceitos. Muito do que compreendemos acaba sendo guiado por elucubrações e por conjecturas embaladas por fragmentos do saber nessa área”. O que parece ser muito verdadeiro.
Não ver é a condição para imaginar. E, sem a imaginação não iríamos refletir sobre o mundo. Contudo, a imaginação pode levar à mentira.
“O mentir é um traço da personalidade humana que varia do esperado (normal?) até o inusitado e prejudicial (antissocial)”, afirma o autor. E continua: “É difícil imaginar um mundo ao nosso redor sem a existência da mentira. A mentira está presente em todos os momentos da nossa vida”.
A corrupção é prejudicial para o povo que paga por seus impostos, mas em empresas muitas vezes é considerada como algo normal. O “he doesn´t play ball” quer dizer que o sujeito não segue as regras da empresa e prejudica o seu andamento. Exemplo: Um médico que não aceita propina para usar um determinado produto em sua clínica.
Embora eu discorde da forma como o autor define caráter: “Caráter: se forma a partir de ensinamentos de valores sociais corretos ou incorretos conforme a cultura em que se vive”. O caráter seria aprendido. Essa é a concepção da Psiquiatria e não dos especialistas em caráter. Caráter não tem nada de aprendido: é constitucional.
O autor diferencia claramente a mentira válida socialmente da não válida. E segue explicando o funcionamento cerebral e correlacionando-o com as possíveis causas da mentira. Nesse sentido, demonstra bom conhecimento de Neurologia.
O autor nos apresenta 14 indícios do comportamento da pessoa que mente. Muito interessante. Faz uma relação da mentira com os ensinamentos da religião. Faz um relato sobre as alterações da percepção da realidade.
Psicopatas mentem. Muito bem colocado pelo autor. É uma das principais características deles.
Gostei muito da parte que diz que os homens mentem mais que as mulheres, baseado em pesquisas.
O autor, em relação às mídias sociais relata que “Os dados apresentados são alarmantes, especialmente aqueles que dizem que ‘notícias falsas são efetivas’ e que ‘a denúncia de uma declaração como falsa não a desativa’. Isso sem falar na enormidade de mentiras espalhadas por esses meios digitais de comunicação”. Buscou ainda, o autor, quantificar o nível da mentira. Muito interessante.
O autor faz uma resenha do Auto da Compadecida associando os dizeres dos personagens à mentira, fazendo excelente crítica.
Enfim é no resumo que o autor faz ao final de seu livro que consagramos todo o seu pensamento.
Eu gostei muito do livro e não esperaria menos deste autor tão talentoso e competente. Parabéns, querido amigo.
Profª. Drª. Hilda Clotilde Penteado Morana
Médica, especialistas em Psiquiatria, com formação em Psicologia e Psicoterapia Psicanalítica e em Rorscharch, sendo na atualidade uma das maiores autoridades em “Psicopatia” (Transtorno de Personalidade Antissocial) no Brasil.